Polícia abre "investigação criminal" após ver documentos
A informação surge no mesmo dia em que o Tribunal Superior de Londres determinou que as autoridades britânicas só poderão ter acesso limitado e durante uma semana ao material que foi confiscado ao cidadão brasileiro David Miranda, detido no domingo durante nove horas no aeroporto de Heathrow.
Miranda é o companheiro do jornalista Glenn Greenwald, do diário britânico "The Guardian", que divulgou as revelações sobre programas de espionagem eletrónica dos Estados Unidos feitas pelo ex-consultor da Agência de Segurança Nacional americana (NSA) Edward Snowden.
Os juízes determinaram na audiência preliminar de hoje que até à próxima sexta-feira, quando apresentará a sua decisão final, o governo e a polícia do Reino Unido só poderão examinar, copiar ou divulgar a informação armazenada nos dispositivos eletrónicos confiscados ao cidadão brasileiro para "proteger a segurança nacional".
A polícia explicou perante o Tribunal Superior que recuperou "dezenas de milhares" de páginas de material informático, que começou a analisar nos últimos dias.
"O que foi inspecionado até agora contém, aos olhos da polícia, material altamente sensível, e a sua divulgação seria altamente prejudicial para a segurança pública. É por isso que a polícia abriu uma investigação criminal", afirmou o advogado da Scotland Yard, Jonathan Laidlaw, citado pelas agências noticiosas internacionais.
O mesmo responsável escusou-se contudo a dar mais pormenores sobre a natureza e alcance da investigação.
Os advogados de David Miranda pediram ao tribunal britânico para proteger a confidencialidade dos documentos apreendidos, descrevendo-os como "material jornalístico sensível".
A detenção do cidadão brasileiro provocou um incidente diplomático com o Brasil, críticas de associações de jornalistas, organizações civis e a petição do Partido Trabalhista britânico para a revisão da lei antiterrorismo.
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse hoje esperar que o material apreendido a David Miranda seja devolvido "em breve" e garantiu que o governo brasileiro está "em contacto direto com Miranda para assegurar o exercício dos seus direitos".
A Scotland Yard defende a aplicação da lei, que permite deter e interrogar pessoas em aeroportos, portos e zonas de fronteira.
Edward Snowden revelou em junho, através de notícias publicadas nos jornais "The Guardian" (em que trabalha Greenwald) e "Washington Post", a existência de um programa de vigilância de grande escala dos EUA, que opera em todo o mundo com capacidade para intercetar e armazenar comunicações eletrónicas e ligações telefónicas e que conta com a colaboração dos serviços secretos britânicos.